27 novembro 2007

A tradição sindical ainda é o que era

Na próxima 6ª feira, dia 30 de Novembro, ocorre uma greve geral promovida pelos sindicatos portugueses. Mais uma. Mais do mesmo. Acredito que assim será. Estou certo disso. E não tive de enviar agentes da autoridade a sedes sindicais para controlar a situação e a informação. Assim tem sido. Não será certamente diferente agora. A começar pelos dirigentes sindicais que são os mesmos há anos a fio. As mesmas caras, as mesmas estratégias (ou ausência delas), as mesmas reivindicações (poderia ser um sinal que o poder político continua sem dar as devidas respostas aos problemas mas tal seria uma explicação demasiado redutora, não completamente falsa, mas redutora).

É vulgar afirmar-se que o Mundo está em mudança. E está mesmo. Mudanças sempre houve ao longo da História da Humanidade, umas mais profundas do que outras, umas mais radicais do que outras, umas mais lentas, outras mais rápidas, mas os conceitos de continuidade e de ruptura fazem parte da própria essência da História. Agora os ritmos é que são mais acelerados do que nunca. Mudanças, como referi, sempre houve, mas nunca tão rápidas e a esta velocidade vertiginosa. Assim acontece com o universo laboral.

Já não faz qualquer sentido um sindicalismo com a configuração actual. Acções sindicais baseadas nas greves e não na via negocial. Deveriam evitar a todo o custo a visão maniqueísta (os patrões os maus e os trabalhadores os bons claro....) que muitas vezes inviabiliza logo de início qualquer crescimento da margem de negociação. Partem do princípio que o patronato é um bando desqualificado de exploradores das classes trabalhadores (o que em alguns casos não andará longe da verdade dos factos). Colocam-se numa posição de ter direito a tudo e mais alguma coisa mas em termos de deveres o prato da balança já não possui tanto peso, até parece que deveria ficar vazio segundo algumas opiniões...

Um sindicalista tradicionalista (parece contradição mas a esmagadora maioria é de facto tradicionalista) acredita que a tradição sindical ainda é o que era e assim deve continuar a ser. Não há verdadeiras negociações. Eles que são os maus só nos querem explorar, tramar e dificultar a vida, não vamos conseguir nada deles por isso partimos para a greve e mais nada!Poderia ser uma frase saída de uma reunião no sindicato (digo eu, embora nunca tenha participado em nenhuma...também seria difícil pois não estou sindicalizado e não me parece que venha a estar nos próximos tempos). Por isso a greve surge com facilidade e não como recurso extremo. O sentar à mesa das negociações é só uma formalidade que têm de cumprir. O barulho nas ruas, a confusão, os constrangimentos causados aos cidadãos em geral, o contributo para os baixos índices de produtividade parece ser a forma de luta de eleição. "Barulho não é argumento" diz muitas vezes o sr. primeiro-ministro no Parlamento. Tenho de reconhecer que tem razão.

Empregadores e empregados, patronato e trabalhadores, cada um tem o seu papel nos meios económico e social. Uma instituição, uma empresa só existe e só terá sucesso com uma boa articulação e o melhor entendimento possível entre as partes que compõem o todo. Se alguma peça da engrenagem falha toda a máquina pára ou funcionará de forma deficiente. Para que isso não suceda negociar deve ser o mote. Sem ruído, sem radicalismos, sem exigências desequilibradas e desajustadas das realidades contemporâneas, sem utopias desmesuradas. Com elevação, com educação, com pragmatismo, com inconformismo e espírito crítico mas também com a consciência plena do mundo actual, das suas exigências e limitações. Humanismo e Economia não devem e não podem ser inimigos. Muito pelo contrário, devem ser os melhores aliados. Há tradições que não podem continuar a ser o que têm sido.

17 novembro 2007

Por falar em números...

Sequence 1
Vídeo enviado por e5uf2

José Sócrates, na campanha eleitoral de 2005, diz que 7,1% de desemprego são a "marca de uma governação falhada" e de uma "economia mal conduzida". Em Outubro de 2007, com José Sócrates como primeiro-ministro, Portugal tem 8,3% de desempregados e, pela primeira vez em quase 30 anos, a taxa de desemprego é superior à de Espanha.

Ministro queixinhas

O ministro da saúde do governo português vai apresentar queixa junto do Ministério Público contra a Ordem dos Médicos por esta não alterar imediatamente alguns artigos do seu código deontológico referentes à interrupção voluntária da gravidez.
Insiste este membro do governo em querer interferir na esfera privada desta ordem profissional. A Ordem não pretende ter comportamentos ilegais nem tão pouco ser uma entidade colocada à margem da lei como é óbvio. Tem o direito a ter uma determinada deontologia profissional, um código de conduta interno que só deverá ser alterado se a maioria dos seus profissionais assim o entender e desejar. Se um médico desrespeitar a lei geral do país a justiça deve seguir o seu regular curso como é natural. A Ordem dos Médicos não pretende o contrário. É assim numa democracia adulta que cultiva a liberdade com responsabilidade, o pluralismo e a diversidade de opiniões e posições. Assim não o entende o titular da pasta da saúde. Atitude doentia diria eu...

16 novembro 2007

Números

Valem o que valem, certo? São pistas, indicadores, dados, que devem ser interpretados e analisados em um contexto mais vasto. Certo? Forço-me a pensar nestes termos enquanto vou digerindo as notícias sobre o crescimento da economia portuguesa (1,8% em 2007) e a captação de investimento directo estrangeiro em Portugal (aumentou 9,5% face a 2006).

O primeiro número é conseguido contra um clima de recessão e contra as previsões das instâncias internacionais (FMI e OCDE) e da União Europeia (passe a beliscadela no rigor, mas como eurofederalista convicto, não me resigno a designar a UE como mera organização internacional). E está em linha com as previsões do Governo e do Banco de Portugal.

Não nos enganemos. Crescer 1,8% ao ano não é, em absoluto, o melhor resultado possível. Mas, crescer 1,8% é a nossa melhor marca desde 2001 e é conseguida em contexto económico desfavorável: euro forte, crise dos mercados financeiros, concorrência muito forte no mercado do produto, abrandamento do crescimento económico na Europa. Estes 1,8% divergem da média europeia? Decerto que sim. Mas, caminham para a convergência a curto/médio prazo? Parece que sim.

O segundo número, que leio lado a lado com o primeiro, é sinal de que alguém anda a trabalhar bem (nomeadamente, Basílio Horta e a sua AICEP).

1,8 e 9,5% são apenas mil passos, tais como os mil passos a caminho da sociedade da informação, a que aludo no post anterior (já que falo nisso, o título do post foi gentilmente cedido por Alberto Caeiro). Mas, serão mil passos na direcção certa? Espero que sim.

13 novembro 2007

Mil passos que desse para isso eram só mil passos

O Programa e.escolas.net vai atingir amanhã (4ª feira) a simpática marca de 40.000 portáteis distribuídos, a preços reduzidos, a alunos do ensino secundário, professores e formandos da iniciativa Novas Oportunidades. Este programa é uma medida do Plano Tecnológico, e vai ser galardoado, também amanhã, com o "Best European Project Award", o mais elevado prémio de mérito conferido pela Toshiba.
Não me demoro em considerações sobre o impacte desta iniciativa no desenvolvimento da sociedade da informação em Portugal - é esse, aliás, o motivo do prémio. Seria ocioso realçar o que é por demais evidente. Porém, não será escusado lembrar que a generalização do acesso à internet de banda larga só se efectivará com a separação da PT e da PTM, da qual depende a criação de concorrência no sector.
Termino com uma pequena história, para me forçar a lembrar que esta iniciativa, posto que fundamental, é ainda e apenas um pequeno passo no longo caminho para a sociedade da informação. Um senhor que faz o favor de ser meu amigo, e que em 1982 estava colocado no Dubai, ao serviço de uma empresa portuguesa, tentou matricular o filho, com o 9º ano terminado em Portugal, no equivalente ao 10º ano de escolaridade. Qual não foi o seu espanto quando a direcção da escola o informou de que apenas podia matricular o filho no 8º ano! Questionando a escola, ouviu esta espantosa explicação: «Ele nem sequer sabe programar em Basic...».
Em que mundo nos deixámos ficar enquanto a História continuou o seu caminho?...

12 novembro 2007

08 novembro 2007

A viagem ao Chile.


O Presidente da República iniciou ontem uma visita oficial ao Chile. Aproveitou a boleia da Cimeira Iberoamericana que este ano se realiza em Santiago, e resolveu responder ao convite da Presidente Chilena Michelle Bachelet. Fez bem. O Chile é um país com o qual Portugal começa a ter interessantes relações comerciais e a aproximação política a este emergente país da América Latina é uma boa novidade na já exaustiva relação Brasília-Lisboa.
Acompanhado de cerca de 100 empresários das mais diversas áreas, Cavaco Silva levou a La Moneda e à Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas a mensagem de que «para Portugal, torna-se particularmente claro que é hora de reafirmar a prioridade estratégica que a América latina deve representar para a União Europeia» e ainda «visto do lado europeu, e tendo em conta as afinidades e convergência de interesses dos países latino-americanos, parece existir um elevado potencial, ainda relativamente inexplorado, em matéria de cooperação e de integração económica regional. Este é, naturalmente, um desafio que cabe aos povos latino-americanos dar resposta», disse.
Sobre a primeira ideia resta-me a pergunta: E Portugal? Que faz Portugal relativamente à sua prioridade estratégica na Comunidade Iberoamericana de Nações da qual é membro fundador, para além de participar nas Cimeiras há mais de dezassete anos? Nada! Não fez nem me parece que esteja interessado em fazer. Para Portugal a Comunidade Iberoamericana é uma formalidade vazia de conteúdo. O único interesse de Portugal tem sido o Brasil com quem mantém uma excelente relação bilateral. Para quê então esta preocupação súbita? Obedece esta visita a alguma política delineada de aproximação de Portugal à América do Pacifico? Não me parece! Terão os nossos diplomatas ou os nossos economistas estudado e pensado uma nova política estratégica de aproximação a este bloco económico? Não me parece! Para quê então este discurso de preocupação ainda para mais em nome da União Europeia?
A segunda ideia conduz-me à dúvida sobre que interesses terá Cavaco Silva na união dos Sul Americanos, ou dos europeus por ele representados em Santiago! Mas provavelmente nem são necessárias grandes especulações.

No fundo, a razão das minhas interrogações e de alguma indignação, tem uma outra raíz. Esta é a terceira visita oficial de Cavaco Silva ao estrangeiro enquanto PR e mais uma vez, infelizmente, o PR não escolheu nenhum país da CPLP como destino. Escrevi o mesmo aquando da visita a Espanha e à Índia. Concluo que o interesse que Portugal dispensa à CPLP é o mesmo que dedica à Comunidade Iberoamericana de Nações. Passa a ir a umas reuniões anuais, integra uma fotos de família e por aí se fica.
Deixei de compreender as prioridades da política externa portuguesa e sobretudo deixei de ser crente nos discursos pró-lusofonia dos políticos portugueses. É tudo uma ilusão! O total non sense!

06 novembro 2007

Ao que isto chegou!

No Diário de Notícias de hoje (dia 6) li uma peça sobre o a preparação de Sócrates e Santana para o debate do Orçamento.
Li e não quis acreditar!
Numa parte da notícia diz então o seguinte:

"O primeiro-ministro preparou-se com afinco. Colaboradores seus andam há semanas a recolher material sobre Pedro Santana Lopes. O staff de Sócrates inclui especialistas em pesquisa de informação, como José Almeida Ribeiro, seu adjunto, quadro do SIS."

Pois é, há um quadro das secretas no gabinete do PM a fazer pesquisa sobre pessoas. Ao que chegou o Governo PS!
E ainda mais extraordinário é que o facto tenha passado despercebido.
Que bem que vai a Democracia Lusitana...

04 novembro 2007

Duas exposições em Lisboa a não perder !


A primeira destas duas a ser inaugurada foi a que está patente na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian desde o dia 28 de Setembro. A exposição intitulada "Os Gregos. Tesouros do Museu Benaki, Atenas" apresenta-nos mais de 150 objectos que ao estarem organizados de forma cronológica nos dão uma visão panorâmica do percurso deste povo, sobretudo em termos de Arte e Cultura, desde o Neolítico (6º milénio a.C.) até à criação do Estado Helénico em 1830. Não se limita, portanto, à Grécia da Antiguidade Clássica oferecendo uma visão mais extensa e completa (ainda que a visita não seja nada exaustiva, percorrendo-se o espaço de uma forma bastante agradável) com bons exemplares representativos de cada período abordado. A Grécia deu à Europa a sua matriz cultural (pelo menos parte substancial dela) em territórios tão vastos quanto a filosofia, a mitologia, o teatro, entre outras expressões artístico-culturais. Boa parceria luso-helénica (mais uma vez uma boa iniciativa cultural pela mão da Fundação Calouste Gulbenkian) a repetir mais vezes certamente e no sentido inverso também! Pode ser visitada até ao dia 6 de Janeiro de 2008.

Uma outra exposição incontornável na actual oferta cultural lisboeta é a que pode ser visitada no espaço da Galeria de Pintura do Rei D. Luís I, na ala norte do Palácio Nacional da Ajuda. Inaugurada a 25 de Outubro, com a presença do presidente russo V. Putin, trouxe até Lisboa cerca de 600 objectos ilustrativos do que foi a Arte e a Cultura no Império Russo durante a dinastia imperial dos Romanov (parte do conjunto de cerca de três milhões de objectos que compõe o acervo do Museu Hermitage).
Organizada, também, de forma cronológica inunda a antiga galeria com arte russa (peso talvez excessivo de pintura, retratos em particular) que nos revela os rostos imperais desde Pedro, o Grande, passando por Catarina II, até Nicolau II. Muita pintura (em muito boas condições de conservação) mas não só... escultura, gravura, ourivesaria, mobiliário entre outras artes decorativas e até instrumentos ligados à ciência e técnica podem ser vistos e fruidos por todos (aqueles que quiserem e puderem pagar 6 €, pouco mais do que um bilhete de cinema vendo bem...) até 17 de Fevereiro de 2008. Esta exposição faz parte de um protocolo do Ministério da Cultura com o museu de São Petersburgo, envolvendo mais duas exposições (2008 e 2009) e a esperada instalação de um pólo em Lisboa daquela instituição museológica em 2010. Parece que desta vez o Ministério da Cultura está de parabéns...Boa iniciativa (é a maior exibição organizada pelo Hermitage no exterior) que vem enriquecer a vida cultural da cidade e do país e que nos deve encher de satisfação e orgulho.
Aproveito o facto do local escolhido ter sido o Palácio Nacional da Ajuda para relembrar a todos, muito particularmente ao Ministério da Cultura (que ainda para mais tem sede naquele edifício), a necessidade de requalificação do palácio em causa, em concreto a ala inacabada do lado da Calçada da Ajuda (poente), e toda a área envolvente. Pelas vicissitudes da História o projecto palaciano para a Ajuda ficou por concluir. Como tal não será certamente nenhuma fatalidade já é mais do que tempo para serem abandonados os lamentos, os esquecimentos e passar-se à acção (há projectos e tudo!).



03 novembro 2007

Jobs for the boys no MNE


Vivem-se dias agitados para os lados do MNE. O Governo prepara-se para alterar leis estruturais da carreira diplomática, numa lógica perversa e contraditória com a sua própria actuação.

Falo da questão dos Cônsules. Actualmente, estes lugares são desempenhados por diplomatas de carreira. E convenhamos, tem toda a lógica que assim seja.

Mas o Governo parece achar que não. Ao que se sabe, está em fase final de preparação um diploma que prevê que estes lugares passem a ser preenchidos por despacho ministerial, não tendo a pessoa designada que ser da carreira diplomática, nem sequer da função pública.
Ou seja, o PS prepara-se para criar nova legislação que o habilite a nomear amigos, camaradas e afins para o desempenho de importantes cargos de protecção de interesses e direitos fundamentais dos cidadãos portugueses no estrangeiro. Um verdadeiro escândalo.
Trata-se de politizar lugares que não o deveriam ser. Trata-se de colocar amigos em bons lugares, sem qualquer critério, mérito ou seja o que for.

Recorde-se que, actualmente, os lugares de cônsules são preenchidos por diplomatas, aquando do movimento ordinário desta carreira especial da Administração Pública. Tal colocação obedece a um processo, com regras, e no qual os “pares” reunidos em Conselho Diplomático após análise, debate e ponderação submetem uma proposta de colocações no estrangeiro ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, para que este a homologue.

Por outro lado, é incompreensível esta atitude do Governo quando no passado o ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros Freitas do Amaral, ministro deste mesmo Governo, declarou publicamente ser um escândalo a existência de lugares nas embaixadas (carreira do pessoal especializado) que careciam apenas de despacho ministerial para a colocação, e que mais não eram do que lugares de refúgio para diversos aparatchiks políticos.
Aliás, Freitas reduziu, enquanto Ministro, 1/3 desses lugares, e preparou legislação para criar regras claras e imparciais de acesso a esses lugares, através de concurso público. Infelizmente esse processo foi parado pelo actual MNE.
Hoje percebe-se porquê.

Além dos lugares de preenchimento político que já havia, o PS prepara-se para criar mais. Afinal de contas foram prometidos 150.000 empregos em campanha. Só não disseram era para quem…